"No mundo da luz não existe lugar para o cativeiro da alma." M.V.B.

terça-feira, 21 de junho de 2011

UMA HISTÓRIA DE DERVIXES

            Certo dia, faz muito tempo, Khidr, o mestre de Moisés, dirigiu uma advertência ao gênero humano. Numa data determinada, declarou, todas as águas do mundo que não tenham sido especialmente guardadas, desaparecerão. Serão então renovadas com uma água diferente que fará os homens enlouquecerem.
            Somente um homem prestou atenção à advertência. Recolheu bastante água e armazenou-a em lugar seguro, esperando que as águas mudassem de características.
            No dia indicado, as torrentes deixaram de correr, os poços secaram e o homem que dera ouvido à advertência, vendo o que ocorria, foi a seu refúgio e bebeu a água guardada em seu reservatório.
            Quando notou, lá de seu abrigo, as fontes jorrarem novamente, desceu a colina e foi misturar-se aos outros homens. Comprovou que estavam falando e pensando de um modo inteiramente diverso do anterior; nem sequer tinham lembrança do que acontecera, tampouco de terem sido alertados por Khidr. Quando tentou dialogar com eles, percebeu que o julgavam louco, tratando-o com hostilidade ou compaixão, ao invés de compreendê-lo.
            De início, ele não bebeu da água renovada, retornando a seu refúgio e servindo-se diariamente da água que guardara. Mas, finalmente, resolveu beber da água nova por não poder suportar mais a tristeza de seu isolamento, comportando-se de maneira diferente dos demais. Bebeu a nova água e se tornou igual aos outros. Então se esqueceu inteiramente de tudo o que se referia à água especial que armazenara. E seus semelhantes passaram a encará-lo como a um louco que fora devolvido à razão milagrosamente.
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Extraído de “Histórias de Dervixes”  - Idries Shah


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